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Hey, ovelha! Você sabia que março é o mês mundial da conscientização da endometriose? Muitas de nós sofrem com essa condição, e muitas vezes sem saber o que ela é de verdade. Se você tem cólicas fortes ou conhece alguém que tem, leia até o final essa entrevista com a especialista em Ginecologia Natural e Gineterapeuta Luíza Salmon, e ajude quem você puder compartilhando a matéria. Esse conhecimento pode trazer alívio pra vida de alguém ♡

Blog da Ov: O que é a endometriose? Como ela age no corpo?

Em termos médicos, é uma doença caracterizada pela presença do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) fora da cavidade uterina, geralmente em órgãos da pelve como trompas, ovários, intestinos e bexiga. Porém pode-se ter focos de endometriose em qualquer parte do corpo, inclusive cérebro e coração, por exemplo. A endometriose é uma doença que atinge pelo menos 10% da população feminina do planeta, com sintomas graves e severos, mas ainda assim o diagnóstico costuma ser muito tardio, depois de 8 a 12 anos, no meu caso foram 15. Como portadora, descrevo a endometriose como uma doença silenciosa, apesar do nosso corpo gritar e uivar, e de difícil diagnóstico. Há muito descaso da sociedade e comunidade médica, a dor da mulher ainda é vista como frescura. Fiquei anos sofrendo em silêncio achando que sentir tanta dor era normal. E essa é a história de milhões de mulheres também.

Blog da Ov: E porque a endometriose é perigosa?

A dor física pode ser extremamente intensa, por isso, é muito comum ficarmos abaladas emocionalmente também. Então acabamos perdendo trabalhos, provas, eventos sociais, aniversários de melhores amigos, entrevistas de empregos, qualidade de vida. A vida pode parecer apenas sobrevivência. “Como vou enfrentar a próxima crise?”,  “Será que estarei bem no dia de um compromisso importante?”, “Será que algum dia vou ser mãe?”, são alguns dos questionamentos frequentes das portadoras. Uma importante questão da endometriose é o descaso que ainda enfrentamos, seja pela falta de tratamento ou pelos tratamentos não eficazes. A endometriose perturba o corpo e a mente, e são comuns casos depressão e suicídio entre as portadoras.

Blog da Ov : Quando apresenta sintomas, quais são os mais comuns?

Os mais comuns são cólicas menstruais intensas e infertilidade. Mas a lista é grande: dor na lombar (uma dor pélvica crônica), dor na relação sexual, fadiga crônica, problemas intestinais, entre outros. Porém, a endometriose também pode ser assintomática. Nesse caso, a mulher pode descobrir que tem a doença porque quer engravidar e não consegue ou sem querer ao realizar uma cirurgia. É importante ressaltar que a endometriose é a principal causa de infertilidade entre as mulheres, mas nem todas as portadoras apresentam problemas de fertilidade.

Blog da Ov : Quais as consequências da doença, se não tratada?

A doença pode progredir, e em casos extremos pode matar. Pessoalmente, sempre ouvi que não tinha nada, que era muito fraca para dor. Por muitos anos eu acreditei nisso, achei que isso era o comum. Desacreditei do meu corpo e dos sinais que ele me dava, desmaiei inúmeras vezes, ficava de cama todos os meses. Isso mexeu com a minha auto-estima de um jeito muito profundo, e só tenho consciência disso hoje, as 32 anos.  Precisamos cuidar dos sintomas físicos da portadora, mas também dar amparo emocional e psicológico. O ideal é um tratamento interdisciplinar com médicos, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas naturais.

Blog da Ov: E como é feito o diagnóstico?

A única maneira de ter 100% de certeza é pela cirurgia. Mas existem exames que podem indicar. São exames muito específicos feitos por especialistas, que exigem preparo intestinal. Uma ecografia ou transvaginal comum dificilmente vão diagnosticar a endometriose.  Precisamos enfatizar que a maioria das portadoras espera anos para receber o diagnóstico, e algumas nunca chegam a receber.  Isso acontece porque precisamos de exames extremamente precisos, mas também porque a dor da mulher não é levada a sério. A dor da endometriose está entre as piores que se pode sentir e ainda assim somos chamadas de frescas.

Blog da Ov: Quais os tratamentos possíveis?

São muito complicados. Hoje os médicos recorrem a tratamentos hormonais e cirúrgicos, porém diversas vezes são pouco eficazes. Como coordenadora da EndoMarcha Curitiba, tenho o privilégio de ter acesso ao conhecimento da Caroline Salazar, principal ativista brasileira da endometriose, do blog A Endometriose e Eu. A Carol enfatiza muito que a doença tem cura, ela mesma é um exemplo. Mas para a cura acontecer o cirurgião precisa fazer a cirurgia de excisão, que remove completamente os focos. Porém poucos cirurgiões realizam essa cirurgia, a maioria faz a cirurgia de vaporização a laser, que tem alto grau de reincidência. Além disso, muitos médicos recorrem a tratamentos hormonais, como uso contínuo de anticoncepcionais, DIU Mirena, e remédios mais específicos. Nada disso trata de fato a doença, e pesar de aliviar os sintomas, não cura e traz muitos efeitos colaterais. Eu, por exemplo: fiz uma cirurgia e tomei hormônios por quase 5 anos, mas assim que parei de tomar voltei a sentir dores absurdas. Existem também os tratamentos naturais, alguns exemplos são: ginecologia natural, medicina ayurvédica, medicina chinesa, nutrição baseada nos ciclos femininos, entre outros. Mas somente a mulher pode decidir o caminho que ela deseja. Só ela sabe o tamanho da sua dor. Informação é a melhor ferramenta. Também é possível conciliar uma cirurgia eficaz com tratamentos naturais.

Blog da Ov: E quais as recomendações?

Ficar atenta ao seu corpo e aos sintomas. Perceba também as mulheres ao seu redor. Cólica menstrual forte não é normal. Busque informações antes de optar por um tratamento, questione o seu médico, não aceite qualquer coisa, você tem esse direito. Tenha uma rede de apoio. Aprender a pedir ajuda é fundamental. É muito difícil a portadora dar conta de tudo sozinha. O nosso corpo é nosso maior aliado, ele sempre manda sinais. A mente é alimentada pelo corpo da mesma forma que o corpo é alimentado pela mente. Por isso também é tão importante falarmos de endometriose e saúde mental.

Blog da Ov: Características emocionais, como ansiedade e estresse, podem influenciar?

            Algumas pessoas às vezes comentam ou perguntam se o estresse é a causa da endometriose. A resposta é não. Cada pessoa reage ao estresse de uma forma, mas com certeza estresse e ansiedade pioram nosso estado mental, emocional e físico. No caso da endometriose, a causa da doença não é o estresse, mas com certeza o estresse agrava a doença. Vale a pena enfatizar também que o próprio convívio com a doença causa MUITO estresse. Sentir dor constantemente é uma das coisas mais desgastantes para nosso corpo. A pressão da infertilidade também é péssima. Não podemos nos considerar saudáveis quando estamos sofrendo de ansiedade e estresse, a saúde precisa ser integral. É válido também ressaltar algumas coisas que acabamos ouvindo sobre a endometriose como: “é a doença da mulher moderna, que trabalha demais e tem filhos tarde”.

A culpa não é nossa. Nossas avós e bisas também tinham endometriose, mas era uma época que tinham quase nenhuma voz, e se eu demorei 15 anos para encontrar um ginecologista que me levasse a sério, já imaginou como não deveria ser para nossas bisas?

A 6ª edição da EndoMarcha – Marcha Mundial pela Conscientização da Endometriose – é realizada todos os anos em março, simultaneamente, em cerca de 70 países no mundo todo.

Luíza Salmon é Gineterapeuta, especialista em Ginecologia Natural com ênfase na Ayurveda e Ciclos Femininos. Faz atendimentos individuais e conduz círculos de mulheres. É também palestrante, jornalista e coordenadora da EndoMarcha Curitiba, movimento internacional que visa conscientizar a endometriose.

Duda Malucelli para o Blog da Ov